Arregou: Bolsonaro se Contradiz e Pede Desculpas em Depoimento Sobre Tentativa de Golpe
As audiências no Supremo Tribunal Federal (STF) que investigam a tentativa de golpe de Estado têm sido palco de um comportamento errático por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre a tensão visível e o silêncio calculado, Bolsonaro oscilou entre inquietação, apatia e episódios inusitados, como 15 minutos trancado no banheiro e suspeitas sobre seu próprio segurança.
Comportamento no Tribunal
No segundo dia de audiências da ação penal que apura a tentativa de golpe, entre o final de 2022 e o início de 2023, Bolsonaro demonstrou um comportamento instável. Seu pedido para exibir vídeos foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes nesta terça-feira (10). Questionado pela imprensa, o ex-presidente optou pelo silêncio, apenas segurando uma pasta com documentos de sua defesa antes de se dirigir ao seu assento.
Na última segunda-feira (9), Bolsonaro chegou a cumprimentar o tenente-coronel Mauro Cid, também réu nas investigações, antes que o militar o mencionasse abertamente durante os questionamentos de Moraes. A inquietação do ex-presidente e de seu advogado, Celso Vilardi, foi notável, com constantes mudanças de postura e reações comportamentais conforme as interações no tribunal se desenrolavam. Em um momento peculiar, Bolsonaro ficou "preso" por 15 minutos no banheiro, demonstrando paranoia até mesmo com o segurança que o acompanhava, questionando se estava sendo seguido.
Depoimento Político e Desconectado
Irritado com a negativa de Moraes em permitir a exibição de vídeos, Bolsonaro iniciou seu interrogatório na tarde desta terça-feira (10) com um discurso confuso, desconexo e claramente beligerante. Ao ser questionado sobre sua identificação, recusou-se a informar seu endereço por "razões de segurança".
Aproveitando seu direito de fala, o ex-presidente transformou o interrogatório em um palanque político, elencando uma "fantástica" sequência de supostas benfeitorias de seu mandato, como "água para o Nordeste" e "fim da corrupção". Ele ignorou as acusações que pesam contra si, focando em ataques a adversários políticos e repetindo a tese infundada de fraude eleitoral, apesar da ausência de qualquer relação com a ação penal em julgamento.
Moraes, embora pudesse interrompê-lo, permitiu que Bolsonaro reverberasse suas falas. O ex-presidente seguiu mencionando nomes como Flávio Dino, Lula e Dilma Rousseff, identificando-os como "comunistas" em suas manifestações direcionadas à sua base de apoio.
Negativa de Provas e Reação de Bolsonaro
A recusa do ministro Alexandre de Moraes em autorizar a exibição de vídeos durante o depoimento deixou Bolsonaro "completamente furioso", conforme relatos. O ex-presidente pretendia usar os vídeos para sustentar teses já desmentidas, como a vulnerabilidade das urnas eletrônicas e a possibilidade de fraude nas eleições de 2022, com o objetivo de "lacrar" com seus seguidores e gerar conteúdo para as redes sociais.
A resposta de Moraes foi técnica: como os vídeos não faziam parte do processo como provas, o interrogatório não seria o momento adequado para apresentá-los. A negativa gerou receio de que desestabilizasse ainda mais o ex-presidente, que havia apostado nessa estratégia.
Posição Vexatória e Desculpas a Moraes
Em um momento inesperado, Bolsonaro se colocou em uma posição constrangedora ao explicar, sem ser questionado, o motivo de não ter comparecido à posse de Lula para passar a faixa presidencial. Ele afirmou que não queria "se submeter à maior vaia da história do Brasil", uma justificativa considerada vexatória e infantil.
Posteriormente, confrontado com acusações feitas contra os ministros Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso em uma reunião ministerial de julho de 2022, Bolsonaro recuou. Moraes leu trechos da transcrição em que o então presidente insinuava que os ministros estariam "levando milhões" de dólares e manipulando as eleições. Bolsonaro admitiu não ter provas, pediu desculpas e alegou que era apenas um "desabafo".
Estratégia de Defesa e Desmentidos
Ao longo de seu depoimento, Bolsonaro usou o espaço do STF como palanque eleitoral, articulando sua defesa em torno de ataques ao governo Dilma Rousseff e ao ministro Alexandre de Moraes, especialmente sobre o período em que Moraes presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele reiterou a questão do voto impresso e tentou reverter a narrativa de sua derrota nas eleições de 2022, buscando culpar Moraes pela situação.
No entanto, o ministro Moraes desmentiu veementemente as insinuações de fraude nas urnas eletrônicas. "Não há nenhuma dúvida sobre o sistema eletrônico. E esse inquérito não tem absolutamente nada a ver com as urnas eletrônicas", afirmou Moraes, antes de prosseguir com as perguntas.
Por Que Bolsonaro Depõe ao STF
Bolsonaro se tornou réu, juntamente com sete aliados, em março deste ano, por incitar e participar de uma trama golpista que visava anular o resultado das eleições de 2022.1 A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta que o ex-presidente articulou a invalidação do resultado eleitoral, mobilizando setores das Forças Armadas, aliados e apoiadores.
O inquérito inclui investigações sobre reuniões com militares, uma minuta de decreto de golpe encontrada com aliados, ataques ao sistema eleitoral e discursos que incentivaram os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Bolsonaro é o sexto réu a depor no processo. Antes dele, foram ouvidos o tenente-coronel Mauro Cid, o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o general Augusto Heleno.2 Mauro Cid, inclusive, relatou que o plano golpista previa o monitoramento da rotina de Moraes.
Após Bolsonaro, serão ouvidos o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e o general Walter Braga Netto.
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