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Reginaldo Pinho

Professor, Pesquisador, Advogado, Jornalista, Especialista em História, Direito Constitucional e Mestre em Ciência Política.

O Voo da Convergência

Quando o interesse da cidade é maior que qualquer grupo político
Reginaldo Pinho
09/04/2025 18:04 - Atualizado 14/04/2025 22:27
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A visita do governador Carlos Brandão essa semana a Caxias teve episódios que deveriam ser regra, e não exceção. Além de algumas inaugurações (pois Caxias merece muito mais) e a entrega de uma viatura para a Polícia Militar, uma das polêmicas mais comentadas nos últimos dias foi devidamente reparada pelo governador.

Em solenidade no Palácio dos Leões, no dia 24 de março, Carlos Brandão assinou a ordem de serviço para um amplo programa de revitalização, reforma, ampliação e modernização dos aeroportos regionais do Maranhão, além da revitalização da infraestrutura aeroportuária do estado. O anúncio do governador foi amplamente repercutido na imprensa, sendo que apenas 10 municípios no estado foram contemplados: Alto Parnaíba, Carolina, Balsas, Pinheiro, Carutapera, Santa Inês, Barra do Corda, Bacabal, Barreirinhas e Colinas.

Imediatamente, a notícia causou espanto e revolta nos caxienses, pois a Princesa do Sertão, que tem uma das mais importantes histórias do estado e atualmente é representada na Assembleia Legislativa por quatro deputados estaduais, ficou de fora. Já tivemos aqui aeroporto com voos de empresas aéreas nacionais e atualmente o antigo aeroporto foi desativado e é um descampado cercado de lixo e mato. 

Nas páginas de um livro escrito por Jorge Bastiane, intitulado "Uma viagem com Alderico Silva" (Caburé Editora, 2000), é possível verificar quando o antigo aeroporto deixou de receber voos regionais por falta de interesses das autoridades políticas da época, que não adequaram a antiga pista às necessides de pouso de novas aeronaves. Da década de 70 até os dias atuais, o que era pra ser o aeroporto da cidade é só uma estrada larga e comprida de piçarra. Alderico Silva protestou e lutou para que mantivéssemos na cidade um aeroporto, mas não encontrou nessa luta pela manutenção e melhoria da pista, apoio suficiente.

Há décadas, Caxias vem crescendo como rabo de cavalo, isso é do conhecimento de todos. Ainda no século XIX, o vizinho estado do Piauí mudou sua capital para a margem do Parnaíba, há cerca de 70 km de distância (Teresina foi fundada em 1852), iniciando um processo de sufocamento de um dos maiores empórios comerciais da região, que era Caxias (Que desde de 1741 já começava a ser habitada por obra dos missionários jesuítas, sendo elevada a cidade em 1836). Mesmo assim, a cidade continuou tendo importância e manteve, até a década de 80, a terceira maior população do estado, sendo sempre representada na Assembleia Legislativa, no Congresso Nacional — tanto na Câmara quanto no Senado —, e já tivemos senadores e governadores nascidos aqui.

Depois de três ciclos de riqueza, a falta de planejamento de suas elites, que enviavam seus filhos para estudar, primeiro na Europa, depois nas grandes capitais do Nordeste e Sudeste do país, fez com que muitos deles nunca mais voltassem a morar aqui. Caxias sempre foi carente do amor dos próprios filhos que pariu. Muitos dos grandes nomes da literatura, e de outras áreas do conhecimento e dos negócios, nasceram aqui, mas investiram e morreram fora daqui.

Atualmente, Caxias é uma cidade universitária, com poucas indústrias, altos níveis de pobreza e desemprego, e seu comércio sobrevive principalmente do dinheiro que circula com o pagamento de aposentados e servidores públicos. Mas a cidade continua tendo importância. Assumiu, também, uma posição significativa no crescimento do agronegócio e sempre foi termômetro político da região Leste, sendo referência em estrutura de saúde e educação. Atualmente, tem sido mais frequente a permanência de seus filhos, muitos dos quais agora investem e moram aqui, o que propiciou uma nova perspectiva de reestruturação do município no cenário estadual.

Mas, diante de um histórico de perda de importância e rebaixamento de índices de toda natureza, e com o sentimento sempre de otimismo e amor por sua terra, os caxienses não suportaram ver a humilhação do anúncio de 10 aeroportos e nenhum para a cidade gonçalvina. O espanto e o desgosto com tal falta de consideração foram sentidos e suscitaram uma mobilização poucas vezes vista por aqui.

Logo após o anúncio do governador, várias postagens na internet comentaram o fato e demonstraram indignação. Dentre elas, destacam-se as do ex-prefeito Paulo Marinho e do ex-deputado federal Paulinho, que foram às redes sociais e publicaram um desagravo. Ofereceram, inclusive, um terreno para a construção do aeroporto, pois, segundo eles, Caxias havia ficado de fora do projeto por ainda não ter doado uma área para tal fim.

Da tribuna da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Catulé Jr. reconheceu a importância do projeto de aeroportos no estado, parabenizou o governador, mas foi enfático e incisivo na defesa de Caxias, solicitando que o município não ficasse de fora do programa.

Foi durante a visita do governador a Caxias, nesta terça-feira, 8 de abril, que todas as forças políticas da cidade ladearam o mandatário maranhense em um mesmo palanque. Se atualmente, no campo político, existem basicamente dois grupos — um que administra e outro que faz oposição —, no palanque, todos estavam do mesmo lado, como sempre deveriam estar: do lado de Caxias.

Do alto desse palanque, o governador Carlos Brandão anunciou, junto ao prefeito Gentil Neto e aos deputados estaduais Catulé Jr., Cláudia Coutinho e Daniela, que a Prefeitura de Caxias já havia feito a doação do terreno e anunciou: “Caxias também vai ter seu aeroporto”.

Um voo de convergência e prova de amor e respeito à cidade é o mínimo que todos os que abraçam a política devem ter quando o tema é do interesse geral da população. Neste caso, a pressão popular e dos nossos representantes foi sentida e gerou frutos. Que muitos outros voos como este aconteçam, para o bem de Caxias.