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Caxias - MA

UEMA: Nota 1 no Enade e Histórico de Escândalos Lançam Sombra Sobre Curso de Medicina em Caxias 

Enquanto Uema celebra avanços no desempenho geral, a pífia avaliação da Medicina em Caxias acaba expondo uma crise que análises ligam ao perfil e comportamento dos estudantes, agravada por um histórico recente de polêmicas.
- Fonte: Da Redação 23/04/2025 09:35 - Atualizado 27/04/2025 03:12
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A Universidade Estadual do Maranhão (Uema) tem motivos para comemorar seus resultados gerais no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2023, divulgados em 11 de abril de 2025 pelo INEP/MEC. A instituição demonstrou notável evolução, duplicando o número de cursos que alcançaram o conceito 4 na avaliação geral – de quatro, em 2019, para oito nesta edição. Este avanço abrange campi na capital e no interior, reforçando a qualidade do ensino em diversas regiões do estado.

Entre os cursos destacados com conceito 4 estão Engenharia Civil e Enfermagem em Bacabal; Enfermagem e Agronomia em Balsas (com Agronomia Balsas obtendo o maior conceito Enade do Maranhão); Enfermagem em Caxias; e Engenharia Civil, Agronomia e Arquitetura e Urbanismo (considerado o melhor do estado em sua área) no Campus Paulo VI, em São Luís.

Contudo, o cenário no Anexo Saúde do Campus de Caxias apresenta um paradoxo preocupante. Se o curso de Enfermagem no mesmo campus celebra o conceito 4, o curso de Medicina enfrenta uma grave crise, evidenciada pelo Conceito Preliminar de Curso (CPC) de nota 1 – a avaliação mais baixa possível do MEC. Esta nota pífia coloca a formação médica em Caxias sob sério risco de descredenciamento e fechamento.

O contraste entre Medicina e Enfermagem em Caxias é notável. Compartilhando grande parte da infraestrutura e contando com o mesmo corpo docente qualificado, os resultados são diametralmente opostos. Análises e fontes internas sugerem que a explicação para essa discrepância não reside na estrutura ou nos professores, mas sim no próprio corpo discente do curso de Medicina.

Há uma percepção de que o perfil dos estudantes de Medicina em Caxias, frequentemente oriundos de classes sociais mais elevadas e com maior poder aquisitivo – o que popularmente se refere como "filhinhos de papai" –, pode ser um fator determinante para o baixo desempenho. Diferentemente da Enfermagem, onde a necessidade e a determinação impulsionam a dedicação ao estudo, na Medicina pareceria haver uma crença em privilégios que dispensaria o empenho acadêmico necessário para a formação médica de qualidade.

Escândalos: Um Histórico Preocupante

Após a divulgação da nota 1, a reação de parte dos alunos de Medicina de Caxias, muitos com facilidade de acesso à mídia e conexões políticas, foi de "vitimismo". Em vez de assumirem a responsabilidade pelo desempenho insatisfatório, buscaram apoio para culpar terceiros por sua alegada "incompetência". Chegaram a mobilizar representantes políticos que se manifestaram publicamente, focando no risco de fechamento do curso "privilegiado" e convenientemente ignorando o êxito do curso de Enfermagem, que, nas mesmas condições, demonstrou empenho e competência.

Questiona-se o "prejuízo social e econômico" alardeado pelos apoiadores da Medicina: que impacto positivo um curso com tamanha falta de seriedade e dedicação, refletida na nota 1, realmente traria para Caxias e região em termos de mais médicos dedicados nos postos de saúde?

A situação é ainda mais delicada diante de um histórico recente de escândalos que abalaram a imagem do curso de Medicina de Caxias e parecem reforçar a percepção sobre a conduta de parte de seus alunos:

  • 2019: Uema Impede Transferência Ilegal de Alunos

Em decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), desembargador Joaquim Figueiredo, foi suspensa uma liminar de primeira instância que obrigava a Uema a realizar a transferência ex officio (de ofício) de alunos de outras instituições, incluindo faculdade do Paraguai, para o curso de Medicina em Caxias. A decisão inicial baseava-se em supostos distúrbios psicológicos dos alunos, que alegavam precisar de apoio familiar na localidade.

AUema recorreu, argumentando lesão à ordem e economia públicas, sustentando que a decisão comprometia a regularidade de seus serviços educacionais e criava um risco de "periculum in mora" reverso, com potencial "efeito multiplicador" de ações semelhantes, gerando graves prejuízos econômicos ao Estado. A universidade afirmava não disponibilizar vagas para transferência voluntária em Medicina Caxias devido à falta de infraestrutura, além de os requerentes não preencherem os requisitos. O desembargador do TJMA reconheceu a potencialidade de lesão, citando jurisprudência das Cortes Superiores que restringe a transferência ex officio entre sistemas de ensino (privado para público), preservando o acesso via processo seletivo baseado no mérito. (Processo nº 0807835-89.2019.8.10.0000).

  • 2023: Polícia Civil Desmonta Esquema de Venda de Vagas

Em 11 de agosto de 2023, a Polícia Civil do Maranhão, por meio da Superintendência de Prevenção e de Combate à Corrupção (SECCOR), deflagrou uma operação para investigar a venda de vagas no curso de Medicina da Uema em Caxias. As investigações apontaram a participação do ex-procurador chefe da Uema (período de 2018 a 2020) no esquema. Quatro alunas provenientes de uma faculdade de Medicina do Paraguai teriam adquirido vagas mediante pagamento de R$ 10 a 15 mil cada.

Segundo a delegada Katherine Chaves, chefe da SECCOR, em um dos casos, a matrícula foi determinada sem a exigência de documentação, por ordem do ex-servidor. Nos demais, decisões judiciais falsas foram apresentadas para garantir as matrículas. A investigação inicial focou em duas alunas, mas avançou para incluir mais duas. A polícia representou pela suspensão imediata das quatro alunas e por busca e apreensão na residência do ex-procurador, que, embora não encontrado inicialmente, foi localizado em São José de Ribamar. Ele se recusou a colaborar e negou acesso ao celular, que seria periciado. A Uema, que colaborou com a investigação, foi formalmente comunicada da suspensão das alunas.

  • 2024: Alunos Apoiariam Tortura e Ameaçariam Professora

Em dezembro de 2023 (mensagens divulgadas em janeiro de 2024), mensagens chocantes em um grupo de WhatsApp atribuído a membros da ‘Cangaceira’, atlética do curso de Medicina da Uema em Caxias, vieram a público. Os estudantes teriam proferido ameaças e apoiado atos violentos contra uma professora, chefe do Departamento de Ciências da Saúde. As mensagens incluíam frases como “Vou é pegar um calouro convidado e fazer ele espirrar na cara dela”, “Jogar bosta no carro dela” e “am0rd4ça ela de verdade, essa filha da p***”.

Uma fonte da universidade indicou que os estudantes estavam ressentidos com a professora por ela ter exigido comprovação de testagem positiva para Covid-19 como justificativa para a ausência em uma avaliação e em uma competição esportiva. A professora confirmou o incidente, informou ter tomado as providências cabíveis, comunicou a direção do centro e a reitoria, e pediu desligamento do cargo de chefia do departamento.

A Verdade por Trás da Crise

Os dados do MEC/Enade, em especial a nota 1 do curso de Medicina, somados a este histórico de escândalos recentes, parecem apontar para uma conclusão desafiadora: a crise na formação médica em Caxias não reside primariamente na estrutura física ou na qualidade do corpo docente, mas sim em questões relacionadas ao próprio corpo discente. A nota baixa, mais do que um sinal de alerta para a instituição, funciona como um reflexo da "incompetência", do vitimismo e de uma cultura de privilégios que, segundo análises, permeia a trajetória de parte dos alunos.

Essa situação coloca em xeque o futuro de uma formação que, ironicamente, tem como propósito servir à sociedade. O curso de Enfermagem em Caxias, com seu conceito 4, demonstra que é possível alcançar a excelência com os recursos disponíveis e um corpo discente dedicado. A Medicina, infelizmente, parece ilustrar o fracasso quando o privilégio se sobrepõe ao esforço e à seriedade necessários para a nobre carreira médica.

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