Carnaval com muito sertanejo
Já é senso comum o argumento de que o carnaval de antigamente era bem melhor, principalmente na questão musical. Os mais velhos (como eu) que o digam! Entre os principais motivos estão as letras que estariam cada vez mais pobres e sem sentido, instrumentos totalmente eletrônicos e com grave no máximo para ter aquela “batida” ou “pancada”, e claro, a invasão de estilos estranhos ao evento, como funk, piseiro e sertanejo.
Faz pelo menos uns dez anos que o sertanejo se integrou definitivamente ao carnaval, inclusive com bloco e trio próprio. Vez ou outra algum artista aparece na mídia para criticar essa invasão na festa carnavalesca onde, desde o pequeno ao grande artista, fica fora do grande circuito musical por tocar músicas de axé ou tradicionais. Recentemente foi o cantor Netinho que afirmou não mais tocar no carnaval de Salvador porque sua música “[...] não cabia mais na festa infestada por músicas estranhas”, conforme afirmou o próprio cantor. Se em Salvador, o berço do axé músic as coisas estão assim, imagine no resto do país.
Focamos aqui no Maranhão. Nossa capital São Luís, cidade rica e tradicional no samba de raiz e blocos carnavalescos, tem seu circuito principal tomado por artistas de fora. A justificativa é de que isso leva um grande público atraindo investimentos nos setores voltados ao turismo e aquecendo a infraestrutura, inclusive dos trabalhadores informais que aproveitam a data para ganhar um dinheiro extra. “Tá legal, eu aceito o armento”, como diz Paulinho da Viola, “...mas não me altere o samba tanto assim”. Da mesma forma como o nosso Bumba Meu Boi durante o resto do ano, os fazedores de samba e brincadeiras pouco recebem de incentivo ou espaço fora do período carnavalesco.
A abertura do carnaval foi da dupla sertaneja Jorge e Mateus, anunciada com grande entusiasmo. Outro destaque foi Pedro Libe, um jovem sertanejo do estado do Goiás. Quer mais? Felipe Amorim, músico cearense que toca funk, piseiro e forró. Mas tem músicos de axé e samba também, claro, inclusive maranhenses que abrem cedo ou encerram tarde os eventos. Na minha Caxias, lógico, não seria diferente. Zé Vaqueiro – que pelo nome você já deve imaginar o estilo – será um dos destaques da festividade carnavalesca caxiense no Parque da Cidade. As demais cidades do interior então, nem se fala. Devem se resumir mesmo a paredões espalhados pela cidade com os “pancadões” ecoando.
O que fora vendido, aceitamos e nos adaptamos é de que o carnaval é uma “mistura de estilos”, onde todas as músicas se entrelaçam em uníssono. Isso caiu muito bem para grandes artistas, empresários e donos das mídias para venderem seus produtos em um nicho fiel em um evento nacional, tradicional e anual. Essa “globalização musical a lá brasileira” dinamitou a cultura popular de músicas e brincadeiras. O carnaval já é uma festa como outra qualquer com grandes palcos, grandes artistas e paredões que tocam até o amanhecer.
Aos saudosistas como eu e demais pessoas que buscam no carnaval aproveitar as brincadeiras e músicas típicas dessa época, devemos procurar os redutos que ainda sobrevivem distantes desses novos estilos musicais. Agora, somos os alternativos.
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