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Morre aos 89 anos Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e ícone da esquerda latino-americana

- Fonte: Da Redação 13/05/2025 22:29 - Atualizado 30/05/2025 07:12
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José Alberto "Pepe" Mujica, ex-presidente do Uruguai e uma das figuras políticas mais emblemáticas da América Latina, faleceu nesta terça-feira (13 de maio) aos 89 anos. O líder histórico da Frente Ampla travava uma batalha contra um câncer de esôfago que havia se espalhado para o fígado, e seus últimos dias foram dedicados a cuidados paliativos em sua residência.

A notícia do falecimento já era esperada, após o agravamento do quadro de saúde do ex-presidente. Na semana passada, sua esposa e ex-vice-presidente, Lucía Topolansky, revelou ao jornal uruguaio La Diaria que Mujica estava "em seu término" e sob acompanhamento médico para garantir que o "final anunciado" ocorresse da melhor forma possível. Topolansky mencionou a dificuldade em preservar a privacidade diante da estatura pública de Mujica e explicou que a ausência dele nas eleições locais do último domingo (11) se deu por recomendação médica, já que sair de carro seria um esforço excessivo para ele.

"Estou com ele há mais de 40 anos e estarei com ele até o fim. Foi o que prometi", declarou Lucía Topolansky na ocasião, reiterando seu compromisso ao lado do marido.

Luta contra o câncer e decisão de não seguir tratamento

Mujica anunciou publicamente o diagnóstico de câncer no esôfago em abril de 2024. Em janeiro deste ano, ele informou que a doença havia progredido e atingido o fígado, levando-o a uma decisão difícil: não prosseguir com tratamentos agressivos.

"O câncer no esôfago está colonizando meu fígado. Não paro com nada. Por quê? Porque sou um ancião e porque tenho duas doenças crônicas", afirmou o ex-presidente, à época com 89 anos, em uma declaração que ressoou como uma despedida. Ele explicou que seu corpo não suportaria tratamentos bioquímicos ou cirurgias, declarando: "Meu corpo não aguenta".

Em um apelo emocionado e franco, Mujica pediu para ser deixado em paz: "O que peço é que me deixem tranquilo. Que não me peçam mais entrevistas nem nada mais. Já terminou meu ciclo. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito a seu descanso".

O atual presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, considerado um "pupilo" político de Mujica, ecoou o pedido, solicitando respeito ao momento de seu antecessor. "Devemos todos contribuir para garantir que a dignidade seja a chave em todas as fases de nossas vidas. Não devemos enlouquecê-lo, devemos deixá-lo em paz", disse Orsi, que também prestou homenagem a Mujica em suas redes sociais.

Os últimos dias na chácara e a despedida

Em janeiro, Pepe Mujica já havia manifestado o desejo de passar seus últimos dias em sua humilde chácara em Rincón del Cerro, nos arredores de Montevidéu, local que se tornou símbolo de sua vida simples e de seu mandato. "Eu vou morrer aqui. Ali fora há uma secoia grande. A Manuela (sua cadela) está enterrada lá. Estou fazendo os papéis para que também me enterrem ali", declarou, demonstrando apego à terra e à sua história pessoal.

Apesar da gravidade de seu estado, Mujica expressou orgulho pelo futuro político do país, especialmente com a vitória de Yamandú Orsi, afirmando que isso o deixava "tranquilo e agradecido".

Em uma de suas últimas mensagens públicas, dirigiu-se diretamente aos uruguaios: "Sou um velho no final da vida que quer se despedir de seus compatriotas e simpatizantes. É fácil ter respeito por quem pensa parecido, mas o fundamento da democracia é respeitar quem pensa diferente. Por isso, a primeira categoria são meus compatriotas, e deles me despeço. Dou um abraço a todos". Ele também se despediu separadamente de seus "companheiros de luta política".

Repercussão e homenagens na América Latina e no mundo

A morte de Pepe Mujica gerou comoção imediata e colocou a América Latina em luto. Líderes políticos, movimentos sociais e instituições de diversas partes do mundo prestaram homenagens.

No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) divulgou uma nota oficial lamentando a perda e destacando Mujica como um "grande amigo" do país e um "dos mais importantes humanistas de nossa época". O Itamaraty ressaltou seu papel como entusiasta e artífice da integração regional, citando o Mercosul, a Unasul e a Celac, e classificou seu compromisso com uma ordem internacional mais justa como um "exemplo para todos". A nota lembrou ainda que, em dezembro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condecorou Mujica com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta distinção brasileira a estrangeiros, referindo-se a ele como "a pessoa mais extraordinária" entre os presidentes que conheceu.

Movimentos sociais e partidos políticos brasileiros também se manifestaram. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e o Partido dos Trabalhadores (PT) publicaram notas nas redes sociais, despedindo-se de "um símbolo da luta por justiça, dignidade e igualdade" e ressaltando sua trajetória como inspiração para idealistas.

Chefes de Estado e ex-presidentes da região expressaram pesar. Além do presidente uruguaio Yamandú Orsi, o ex-presidente boliviano Evo Morales lamentou profundamente, lembrando dos "conselhos cheios de experiência e sabedoria" de Mujica e afirmando que "toda a América Latina está de luto".

O Ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, também prestou homenagem em suas redes sociais: "Mujica aliou a coragem à doçura, a luta à compaixão. Deixa um legado de esperança, um convite a um humanismo radical. Meus sentimentos ao planeta Terra", escreveu.

José Alberto Mujica será lembrado por sua trajetória incomum, que incluiu anos como guerrilheiro e prisioneiro político durante a ditadura uruguaia, culminando na presidência do país (2010-2015). Seu estilo de vida simples, a doação de grande parte de seu salário e sua defesa intransigente da democracia e dos direitos humanos o transformaram em uma figura respeitada globalmente, cujo legado transcende as fronteiras do Uruguai.

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