Empresas americanas já perderam US$ 4,33 trilhões desde a posse de Trump

As bolsas de valores dos Estados Unidos enfrentam um período de forte turbulência desde a posse de Donald Trump em 20 de janeiro. O receio de uma recessão causada pelas políticas do governo republicano resultou na destruição de US$ 4,33 trilhões em valor de mercado, de acordo com um levantamento da consultoria Elos Ayta.

Só nesta segunda-feira (10), a perda foi de US$ 1,61 trilhão, o que equivale a mais de duas vezes a capitalização total da bolsa brasileira, a B3, estimada em US$ 699 bilhões. O tombo foi ainda mais severo entre as gigantes do setor de tecnologia. As chamadas "Sete Magníficas" – Apple, Microsoft, Amazon, Nvidia, Alphabet, Meta e Tesla – viram juntas US$ 2,54 trilhões evaporarem desde janeiro.

A magnitude das perdas chama atenção. Apenas a Nvidia perdeu US$ 762 bilhões no período, enquanto a Tesla sofreu uma redução de US$ 655 bilhões em seu valor de mercado. Para se ter uma ideia da proporção do impacto, as perdas dessas duas empresas somadas são superiores a todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024, que foi de US$ 2,1 trilhões.

Incerteza econômica cresce com Trump no poder

O mercado financeiro vinha demonstrando resiliência nos primeiros meses do ano, mas a instabilidade aumentou após declarações de Trump sobre sua política econômica. Durante uma entrevista à Fox News no fim de semana, o presidente não descartou a possibilidade de uma recessão nos EUA e minimizou a queda das bolsas. "Tenho que construir um país forte, não dá para prestar atenção no mercado", afirmou.

Os investidores ficaram ainda mais apreensivos com as recentes oscilações na política comercial da Casa Branca. O republicano anunciou tarifas de 25% sobre importações do México e Canadá, o que gerou tensão entre os países e aumentou o risco de inflação nos EUA. Apesar de ter recuado na decisão pouco depois, a confiança do mercado já estava abalada.

"A incerteza gerada por essas mudanças drásticas afeta diretamente as decisões de consumo e investimento", explica Gabriel Cecco, especialista da Valor Investimentos. "Os mercados não temem apenas uma crise, mas o desconhecido. E é exatamente para o escuro que Trump tem conduzido investidores, empresários e consumidores americanos."

Impactos globais e reflexos no Brasil

A volatilidade das bolsas americanas e o risco de uma recessão nos EUA têm reflexos diretos na economia global. O Brasil, por exemplo, pode ser impactado pela possível queda na demanda por commodities, o que pressionaria os preços desses produtos e afetaria a arrecadação tributária.

Além disso, o cenário pode influenciar o Federal Reserve (Fed) a antecipar a redução dos juros nos Estados Unidos, o que poderia favorecer mercados emergentes ao atrair investimentos estrangeiros. No entanto, analistas alertam que o efeito dessa migração de capital pode ser ofuscado por um crescimento global mais lento.

Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destaca que as incertezas sobre a economia americana colocam o mundo em alerta. "As decisões de Trump estão gerando desconfiança em diversos setores. O mercado precisa de previsibilidade, e isso é algo que tem faltado nos últimos meses."

Com um cenário cada vez mais instável, a única certeza no momento é que os mercados continuarão reagindo às incertezas políticas e econômicas dos Estados Unidos.